Passadas as tormentas, lá viram o sol tão desejado.
Chegaram à praia e alcançaram o tão desejado sabor da vitória.
Gloriosos aqueles que conseguiram a permanência na Primeira Divisão.
Salvé Salvé Dauto Faquirá
"que, com parábolas portadoras de imaginação, compaixão e ironia torna constantemente compreensível uma realidade fugidia"
O português José Saramago faz 76 anos de idade em Novembro. É um prosador oriundo da classe trabalhadora que só atingiu a celebridade quando cumpriu os 60 anos. Desde então alcançou a notoriedade e tem visto a sua obra ser frequentemente traduzida. Vive presentemente nas ilhas Canárias.
"Manual de Pintura e Caligrafia: um romance", que saiu em 1977, ajuda-nos a entender o que viria a acontecer mais tarde. No fundo, trata-se do nascimento de um artista, tanto o do pintor como o do escritor. O livro pode, em grande parte, ser lido como uma autobiografia mas, na sua intensidade, encerra também o tema do amor, assuntos de natureza ética, impressões de viagens e reflexões sobre a relação entre o indivíduo e a sociedade. A libertação alcançada com a queda do regime salazarista transforma-se numa imagem final portadora de abertura.
"Memorial do Convento", de 1982, é o romance que o vai tornar célebre. É um texto multifacetado e plurissignificativo que tem, ao mesmo tempo, uma perspectiva histórica, social e individual. A inteligência e a riqueza de imaginação aqui expressadas caracterizam, de uma maneira geral, a obra saramaguiana. A ópera "Blimunda", do compositor italiano Corghi, baseia-se neste romance.
"O Ano da Morte de Ricardo Reis", publicado em 1984, é um dos pontos altos da sua produção literária. A acção passa-se formalmente em Lisboa no ano de 1936, em plena ditadura, mas possui um ambiente de irrealidade superiormente evocado. Este ambiente de irrealidade é acentuado pelas repetidas visitas do falecido poeta Fernando Pessoa a casa da personagem principal (que é extraída da produção pessoana) e das suas conversas sobre os condicionalismos da existência humana. Juntos deixam o Mundo após o seu último encontro.
Em "A Jangada de Pedra", publicada em 1986, o escritor recorre a um estratagema típico. Uma série de acontecimentos sobrenaturais culmina na separação da Península Ibérica que começa a vogar no Atlântico, inicialmente em direcção aos Açores. A situação criada por Saramago dá-lhe um sem-número de oportunidades para, no seu estilo muito pessoal, tecer comentários sobre as grandezas e pequenezas da vida, ironizar sobre as autoridades e os políticos e, talvez muito especialmente, com os actores dos jogos de poder na alta política. O engenho de Saramago está ao serviço da sabedoria.
Existem todas as razões para também mencionar "História do Cerco de Lisboa", de 1989, um romance sobre um romance. A história nasce da obstinação de um revisor ao acrescentar um não, um estratagema que dá ao acontecimento histórico um percurso diferente e, ao mesmo tempo, oferece ao autor um campo livre à sua grande imaginação e alegria narrativa, sem o impedir de ir ao fundo das questões.
"O Evangelho segundo Jesus Cristo", de 1991, romance sobre a vida de Jesus encerra, na sua franqueza, reflexões merecedoras de atenção sobre grandes questões. Deus e o Diabo negoceiam sobre o Mal. Jesus contesta o seu papel e desafia Deus.
Um dos romances destes últimos anos aumenta consideravelmente a estatura literária de Saramago. É publicado em 1995 e tem como título "Ensaio sobre a Cegueira". O autor omnisciente leva-nos numa horrenda viagem através da interface que é formada pelas percepções do ser humano e pelas camadas espirituais da civilização. A riqueza efabulatória, excentricidades e agudeza de espírito encontram a sua expressão máxima, de uma forma absurda, nesta obra cativante. "Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêem."
O último dos seus romances, "Todos os Nomes", sairá este Outono, em tradução sueca.Trata-se de uma história sobre um pequeno funcionário público da Conservatória dos Registos Centrais de dimensões quase metafísicas. Ele fica obcecado por um dos nomes e segue a sua pista até ao seu trágico final.
A arte romanesca multifacetada e obstinadamente criada por Saramago, confere-lhe um alto estatuto. Em toda a sua independência Saramago invoca a tradição que, de algum modo, no contexto actual, pode ser classificada de radical. A sua obra literária apresenta-se como uma série de projectos onde um, mais ou menos, desaprova o outro mas onde todos representam novas tentativas de se aproximarem da realidade fugidia.
The Swedish Academy
| DN-Natacha Cardoso Hipótese cavaco. "Não estarei em qualquer evento oficial com ele" |
Disse que gosta de ser radical e que diz sempre o que pensa. Acha que é por isso que está sempre a ser solicitado para "falar do real", como diz referindo-se às questões dos jornalistas? É. Nunca tive medo de dizer o que penso. Há 48 horas disse que Cavaco Silva é um génio da banalidade e mantenho, da boca dele só saem lugares-comuns. E como reage às críticas que lhe fazem em reacção às opiniões que omite? Estou-me a lembrar de Harold Bloom ou de Amos Oz, que o acusaram de anti-semita quando comparou a situação na Palestina ao campo de Auschwitz? Fico na mesma. Estou consciente do que digo e das razões por que o disse e entro nas regras do jogo. Digo o que penso. E não é só o caso de Ramallah Escrevi um artigo que anda à volta desse tema e conto já que vão aparecer cartas agora mesmo na Argentina. Vargas Llosa escreveu uns textos sobre Israel e a Palestina em que faz considerações, com algumas das quais eu concordo, e acusaram-no imediatamente de anti-semita, "tal como José Saramago", dizem. O que hei--de fazer? Não se pode estar de bem com toda a gente e não vou cair na banalidade de dizer que tenho de estar em paz com a minha consciência. Isso é uma banalidade e eu não sou Cavaco Silva. Fico assim. A sua relação a tempo inteiro com a literatura começou há trinta anos, depois de um Verão Quente passado na redacção do DN e um afastamento que o levou à recolha de material para Levantado do Chão. Como recorda esses tempos? Como escritor, sou um produto do 25 de Novembro. Com o 25 de Novembro, fiquei sem trabalho e com pouca esperança de conseguir um sítio onde o encontrar. Eu estava muito marcado. Decidi, aos 53 anos, que seria "agora ou nunca". Se as circunstâncias me retiraram a possibilidade de trabalhar, iria escrever. Não foi fácil. Durante uns anos vivi de traduções. Eu já não estava no circuito, ninguém pensou mais em mim e ainda bem. Fechei-me em casa a traduzir para ganhar a vida e para escrever. Publico, em 1977, o Manual de Pintura e Caligrafia; em 1978, o Objecto Quase. Ainda nesse ano vou para o Alentejo e daí saiu o Levantado do Chão. O Memorial do Convento, em 1980, e acho que também O Ano da Morte de Ricardo Reis confirmaram que estava ali um escritor. A partir daí não tinha nada que provar a não ser a mim mesmo, até onde poderia chegar. Cheguei às Intermitências da Morte, aos 83 anos, e espero que haja mais. Chamado a opinar sobre as presidenciais, disse que votaria em Mário Soares numa eventual segunda volta. Bem sei que Mário Soares neste momento não tem boa imprensa, que muita gente está contra, em muitos casos por razões hipócritas. Se Soares não ganhar, pois terei como presidente Aníbal Cavaco Silva. Mas quero deixar claro o meu apoio ao candidato do meu partido, Jerónimo de Sousa. É admirador do poeta Manuel Alegre. Sim, mas aqui não se trata de pôr na Presidência da República o poeta ou o romancista, ou mesmo o ensaísta. Nessa lógica, por exemplo, podia pôr-se o Eduardo Lourenço como Presidente da República. Acha Manuel Alegre o poeta mais importante do país? Não creio que seja, mas não vale a pena estar aqui a fazer uma classificação. Peço à poesia mais coisas e mais diferentes, o que não significa que a poesia do Manuel Alegre não seja bela, mesmo conceptualmente muito forte. Mas não é o poeta Manuel Alegre que se candidata. É o cidadão. No caso de ganhar Cavaco Silva, não é que não o reconheça. Não se trata disso. Apenas não consigo imaginar este país tendo como presidente da República uma pessoa como Aníbal Cavaco Silva. Custa-me. Provavelmente irá estar em alguns eventos oficiais com ele... Provavelmente não estarei em qualquer evento oficial com ele. Não se esqueça de que Cavaco Silva era primeiro-ministro do Governo que censurou O Evangelho segundo Jesus Cristo e que Cavaco Silva não tem ideia nenhuma do que é a literatura ou a arte. Não sabe nada disso. Também me dirão que para estar à frente de um país não é preciso. Mas tinham-nos habituado à ideia contrária. |
"Não sou profeta, mas Portugal acabará por integrar-se na Espanha" JOÃO CÉU E SILVA (texto e foto) |
Este foi o regresso mais longo de José Saramago a Portugal desde que a polémica que envolveu a candidatura do seu livro O Evangelho segundo Jesus Cristo ao Prémio Literário Europeu o levou para um "exílio" na ilha espanhola de Lanzarote. A atribuição do Prémio Nobel parece tê-lo feito esquecer essas mágoas, mas não amoleceu a sua visão da sociedade e da História, que continua a ser polémica. Como se pode ver nesta entrevista. Durante dois dias, o Nobel da Literatura português sentou-se no sofá e analisou o estado do mundo. Na única entrevista que concedeu durante a temporada passada na sua casa de Lisboa, falou muito de política, mais de literatura e também da vida e da morte. Pelo meio ficou o anúncio da criação da fundação com o seu nome e a revelação de que está a escrever um novo livro. A união ibérica Este regresso a Portugal é um perdão? O país não me fez mal algum, não confundamos, nem há nenhuma reconciliação porque não houve nenhum corte. O que aconteceu foi com um governo de um partido que já não é governo, com um senhor chamado Sousa Lara e outro de nome Santana Lopes. Claro que as responsabilidades estendem-se ao governo, a quem eu pedi o favor de fazer qualquer coisa mas não fez nada, e resolvi ir embora. Quando foi do Prémio Nobel, dei uma volta pelo país porque toda a gente me queria ver, até pessoas que não lêem apareceram! E desde então tenho vindo com muita frequência a Lisboa. Vive num país que pouco a pouco toma conta da economia portuguesa. Não o incomoda? Acho que é uma situação natural. Qual é o futuro de Portugal nesta península? Não vale a pena armar -me em profeta, mas acho que acabaremos por integrar-nos. Política, económica ou culturalmente? Culturalmente, não, a Catalunha tem a sua própria cultura, que é ao mesmo tempo comum ao resto da Espanha, tal como a dos bascos e a galega, nós não nos converteríamos em espanhóis. Quando olhamos para a Península Ibérica o que é que vemos? Observamos um conjunto, que não está partida em bocados e que é um todo que está composto de nacionalidades, e em alguns casos de línguas diferentes, mas que tem vivido mais ou menos em paz. Integrados o que é que aconteceria? Não deixaríamos de falar português, não deixaríamos de escrever na nossa língua e certamente com dez milhões de habitantes teríamos tudo a ganhar em desenvolvimento nesse tipo de aproximação e de integração territorial, administrativa e estrutural. Quanto à queixa que tantas vezes ouço sobre a economia espanhola estar a ocupar Portugal, não me lembro de alguma vez termos reclamado de outras economias como as dos Estados Unidos ou da Inglaterra, que também ocuparam o país. Ninguém se queixou, mas como desta vez é o castelhano que vencemos em Aljubarrota que vem por aí com empresas em vez de armas... Seria, então, mais uma província de Espanha? Seria isso. Já temos a Andaluzia, a Catalunha, o País Basco, a Galiza, Castilla la Mancha e tínhamos Portugal. Provavelmente [Espanha] teria de mudar de nome e passar a chamar-se Ibéria. Se Espanha ofende os nossos brios, era uma questão a negociar. O Ceilão não se chama agora Sri Lanka, muitos países da Ásia mudaram de nome e a União Soviética não passou a Federação Russa? Mas algumas das províncias espanholas também querem ser independentes! A única independência real que se pede é a do País Basco e mesmo assim ninguém acredita. E os portugueses aceitariam a integração? Acho que sim, desde que isso fosse explicado, não é uma cedência nem acabar com um país, continuaria de outra maneira. Repito que não se deixaria de falar, de pensar e sentir em português. Seríamos aqui aquilo que os catalães querem ser e estão a ser na Catalunha. E como é que seria esse governo da Ibéria? Não iríamos ser governados por espanhóis, haveria representantes dos partidos de ambos os países, que teriam representação num parlamento único com todas as forças políticas da Ibéria, e tal como em Espanha, onde cada autonomia tem o seu parlamento próprio, nós também o teríamos. Há duas Espanhas Os espanhóis olham-no como um deles? Há duas Espanhas neste caso. Evidentemente, tratam-me como se fosse um deles, mas com as finanças espanholas ando numa guerra há, pelo menos, quatro anos porque querem que pague lá os impostos e consideram que lhes devo uma grande quantidade de dinheiro. Eu recusei-me a pagar e o meu argumento é extremamente simples, não pago duas vezes o que já paguei uma. Se há duplicação de impostos, então que o governo espanhol se entenda com o português e decidam. Eu tenho cá a minha casa e a minha residência fiscal sempre foi em Lisboa, ou seja, não há dúvidas de que estou numa situação de plena legalidade. Quanto aos impostos, e é por aí que também se vê o patriotismo, pago-os pontualmente em Portugal. Nunca pus o meu dinheiro num paraíso fiscal e repugna-me pensar que há quem o faça. O meu dinheiro é para aquilo que o Governo entender que serve. Mas não pode negar que o olham como um deus... Não diria tanto... Mesmo sendo a crítica espanhola tão positiva em relação à sua obra? Também já foi uma ou outra vez um pouco negativa - talvez devido às minhas posições políticas e ideológicas - mas de um modo geral tenho uma excelente crítica em toda a parte, como é o caso dos EUA, onde é quase unânime na apreciação da minha obra. |
24/04/2008
Pocos de los que entonces, en diciembre último, le pudieron ver hospitalizado en Lanzarote hubieran pensado que el hombre que anoche asistía a la inauguración de una exposición sobre su vida era el mismo. En aquel momento, José Saramago, 85 años, premio Nobel de Literatura, se despedía de la vida; su mujer, Pilar del Río, su compañera desde 1986, la que le llevó a vivir a Lanzarote, se juramentó: "Ganaremos, ganaremos la primavera". Y en primavera, saludable ya aquel hombre entonces final, vuelve a Lisboa como si hubiera protagonizado una resurrección. No fue una resurrección, dice él, "más bien fue un regreso". Ayer, en la inauguración de la muestra (ya exhibida en Lanzarote) en el Palacio de Ajuda de Lisboa, a la que asistió el primer ministro portugués José Sócrates y el ministro de Cultura español, que llevó una carta de Zapatero al escritor, Saramago subrayó el emblema de su vida, que es una frase de Pessoa: "Para ser grande hay que ser entero". Antes, en su casa tranquila y chiquita de la capital portuguesa, contó la experiencia a la que ha sobrevivido.
"Soy muy crítico con la situación de mi país, la gente está decaída"
"Me ha sorprendido la serenidad con que acepté la posibilidad de no sobrevivir"
"Pero ¿y quién sería yo si no hubiera nacido en este lugar del mundo?"
"Desarrollé un sentido del humor muy activo. ¡Yo que no cuento chistes!"
Pregunta. ¿Cómo se siente?
Respuesta. En términos relativos, y teniendo en cuenta lo que he sufrido en los últimos meses, extraordinariamente bien. Hay un término de comparación: me veo ahora y recuerdo cómo estaba antes, incluso encuentro una cierta dificultad en comparar estas dos personas, la que yo he sido y ésta que está aquí y ahora. La diferencia es de tal magnitud que llego a pensar que todo aquello fue un sueño. Más bien una pesadilla. Estoy muy bien. Sigo con mi recuperación y estoy trabajando, estoy escribiendo.
P. Creímos que no lo iba a contar.
R. No llegué a pensar eso; pensé que estaba realmente malo, en un estado deplorable, pero tenía mucha confianza en mis médicos, en los que me cuidaron. Pero, en fin, en mis horas de soledad, que en el fondo eran casi todas, aunque Pilar siempre estaba a mi lado, admití como algo bastante natural que no saliera de aquello. O, peor, que saliera para irme al otro lado... Ahora bien, lo que para mí ha sido sorprendente ha sido la serenidad, la tranquilidad con que acepté sin miedo y sin angustias la hipótesis de no sobrevivir a la enfermedad. Y esa serenidad y esa tranquilidad no es que me haya reconciliado con la idea de la muerte, porque uno no ha de reconciliarse con la idea de la muerte, pero me ha ayudado a contemplar ese hecho como algo natural. Y además, ineluctable, no podía hacer nada contra ella. Puedes armarte de la fuerza que encuentras en ti para no ceder al pánico, al miedo, a la angustia de un posible final, y que además lo estés viviendo... Todo eso lo he vivido, pero como estoy bien ahora, no lo recuerdo como una situación que he pasado sino como una pesadilla. Y lo único que tenía que hacer era despertar de esa pesadilla. Me desperté.
P. ¿Qué vio al despertar?
R. No era como estar en la pesadilla de la que despiertas y luego recuerdas. Durante todo ese tiempo yo no era uno sino dos. Uno, que padecía una enfermedad, y otro que asistía a todo lo que le sucedía a ese enfermo. Yo estaba a la vez viviendo una pesadilla y asistiendo a ella.
P. Eso habrá creado una emoción muy fuerte dentro.
R. No lo sé. Yo me sentí en un estado de casi anestesia total. Es decir, lo vivía no con indiferencia, en absoluto, al contrario, pero podría incluso decirte que lo he vivido sin emociones. No recuerdo haber cedido al peso de cualquier sentimiento, de miedo, o de pena. No. Yo me examinaba a mí mismo con una frialdad casi científica. Desarrollé, eso sí, un sentido del humor muy activo, en las conversaciones con los médicos y con las enfermeras. Nunca he sido chistoso, pero ahí me mostré chistoso, hice bromas sobre lo que iba ocurriendo, desmitifiqué el drama. ¡Y yo nunca cuento chistes! Creo que eso me ha protegido de un sentimentalismo fácil, un poco llorón; nunca he sentido ese riesgo, pero en esta ocasión no lo padecí en absoluto. Jamás.
P. ¿Se siente rabia?
R. ¿Rabia por qué?
P. Por estar perdiendo la vida.
R. Pero la rabia es inútil si no se tiene un blanco. ¿Qué rabia sería? ¿Contra mí mismo? ¿Contra un poder superior que hubiera decidido que mi vida se acabara allí? Y aunque ese poder superior existiera, ¿cómo le llegarían los efectos de mi rabia? No, ninguna rabia. Morir, acabar, y sentir rabia, ¿para qué? ¿Quién se cree esa persona para sentir rabia? ¿Creía que tenía derecho a seguir viviendo? Yo creo que sí. Lo admito. Pero lo que me impresiona es la inutilidad de la rabia en circunstancias como ésas.
P. ¿Resignación tampoco?
R. No es resignación, es sencillamente una aceptación. Son dos movimientos distintos. Lo aceptas porque no tienes otra salida. La resignación es aceptación pero a la vez es renuncia. Y puede no haber renuncia en la aceptación.
P. Ahora esto es como una resurrección.
R. En cierta forma. Porque uno es testigo del despertar de un cuerpo dormido y ese cuerpo es tuyo. Los médicos están haciendo su trabajo, y el tuyo es el de ayudar a tu cuerpo, en ese proceso que se puede llamar de resurrección. Pero a mí me gusta más llamarlo proceso de regreso, es menos dramático y más claro. Estás regresando a ti mismo.
me quedé reducido a alguien que estaba allí y no tenía ánimo, fuerza ni ganas para la escritura. La única parte del cuerpo que no ha sufrido esa pérdida de tono creo que ha sido el cerebro, que demostró una actividad extraordinaria, que no puedo explicar. Nunca caí en esa soñolencia..., siempre estuve muy despierto, con capacidad de observación y de comentario. ¡Hasta de chistes!
P. Eso le salvaría.
R. Quizá sí... Y el estado excelente de mi corazón. Cuando el cuerpo parecía inclinado a renunciar, el corazón siguió peleando y ha ganado la batalla.
P. ¿Y la novela?
R. Era algo que podía terminar o no. O consigues salir y regresas a casa, o lo que estabas haciendo se queda inacabado. El viaje del elefante. Va marchando.
P. Muchos temimos que esta exposición que ahora se inaugura en Lisboa sería una exposición póstuma. ¿Cómo se siente en su propio pueblo asistiendo a ella?
P. Muy contento, muy feliz. No es que este viaje sea una especie de reconciliación con mi pueblo, no he estado nunca de espaldas al país donde nací. Siempre he vuelto; después de la enfermedad y de todo eso se dice que hay un reencuentro... Para un reencuentro se necesitan por lo menos dos, la patria y la persona, pero la patria es una abstracción, no se me presentó, ni ahora ni nunca, vestida no me imagino cómo, diciendo "yo soy la patria", pero uno pertenece a un lugar, a una historia, a un idioma, y yo creo que eso es la patria. Yo soy muy crítico con la situación social y política en Portugal, pienso que el ánimo de la gente está decaído, parece haber renunciado al futuro... Estamos muy aborregados, pero este es mi país, y punto. No es el más hermoso ni el más inteligente ni el más inventivo, pero es mi país. Hace años, me preguntaron por las relaciones con mi tierra. Y yo contesté: Me gusta lo que este país ha hecho de mí. Porque tú puedes protestar contra esto y aquello, pero lo que no puedes negar es que lo bueno y lo malo es lo que te ha hecho a ti, y luego decides si te gusta o no. Pero si te gusta confiésalo. En el fondo, la cosa es muy sencilla: yo puedo criticar a Portugal, pero hay una pregunta: ¿Y quién sería si no hubiera nacido en este lugar del mundo?
P. ¿Y la respuesta es...?
R. ¿Sería más inteligente, habría escrito una obra más importante, sería reconocido por la gente en la calle, pondrían mi nombre a calles o a institutos? No lo sé. Se es lo que se es y punto.
josé saramago(93)
outros cadernos de saramago(81)
benfica(61)
cavaco silva(9)
liga2010/11(8)
futebol(7)
jorge jesus(7)
tsf(7)
500 metal(6)
carlos cruz(6)
casa pia(6)
heavy metal(6)
saramago(5)
25abril(4)
antónio feio(4)
crise(4)
henricartoon(4)
manowar(4)
portugal(4)
sporting(4)
carl sagan(3)
cosmos(3)
papa(3)
politica(3)
psd(3)
roberto(3)
socrates(3)
arrábida(2)
atletismo(2)
campeões(2)
cuba(2)
educação(2)
elefante(2)
emperor(2)
enapá2000(2)
fpf(2)
frança(2)
governo(2)
iraque(2)
iron maiden(2)
israel(2)
metallica(2)
playboy(2)
portagens(2)
porto(2)
ps(2)
pt(2)
real madrid(2)
sócrates(2)
tgv(2)
troika(2)
zeca afonso(2)
1.º maio(1)
100 anos(1)
11/9(1)
2010(1)
86 anos(1)
abril(1)
acidentes(1)
aeroportos(1)
aimar(1)
alentejo(1)
ambiente(1)
animação(1)
antena1(1)
avante(1)
barack obama(1)
bento xvi(1)
bes(1)
blog(1)
bnp(1)
bp(1)
braga(1)
LIGAÇÕES
Saramaguianos
Biblioteca Nacional - Saramago
BENFICA GLORIOSO
Humor
Desporto
Media
Musica
Outros
Politica
Instituições
Ecologia
Programas
Sublinhados - TSF - Fernando Alves
Pessoal e Transmissivel - TSF - C.V. Marques
Pano para Mangas - Antena 1 - João Gobern
O Amor é... - Antena 1 - Júlio Machado Vaz
Linha Avançada - Antena 3 - José Nunes
Cómicos de Garagem - Antena 3 - Rui Unas
Prova Oral - Antena 3 - Fernando Alvim
Nuno & Nando - Antena 3 - Markl e Alvim
Sociedade das Nações - SicNoticias
Tempo Extra - Sic - Rui Santos
Camilo Lourenço - Jornal de Negócios