A Incerteza do movimento de uma bola Oval
"¿Qué clase de mundo es éste que puede mandar máquinas a Marte y no hace nada para detener el asesinato de un ser humano?" José Saramago
Segunda-feira, 30 de Março de 2009
«O Caderno de Saramago» - Raposa do Sol
Raposa do Sol
By José Saramago
Lá de longe em longe o dia amanhece diferente. Que o digam os índios da reserva indígena da Raposa do Sol no Estado de Roraima, ao norte do Brasil, a quem o Supremo Tribunal Federal acaba de reconhecer e confirmar definitivamente o seu direito à plena posse e ao uso pleno dos mil quilómetros quadrados de superfície da reserva. A sentença não deixa qualquer margem a dúvidas: os não índios devem sair imediatamente da Raposa do Sol, assim como as empresas arrozeiras que durante anos invadiram o território e nele se instalaram abusivamente. Já em 2005 o presidente Lula havia decidido a entrega da reserva aos indígenas e a saída das empresas arrozeiras, mas as autoridades do Estado de Roraima, favoráveis aos arrozeiros, recorreram ao Supremo Tribunal por considerarem inconstitucional o decreto presidencial. Quatro anos depois o Supremo decide a questão e põe uma definitiva pedra sobre o assunto. Nem tudo, porém, são rosas neste idílico quadro. Afinal, a luta de classes, tão discutida em épocas relativamente recentes e que parecia haver sido condenada ao caixote do lixo da História, existe mesmo. Com esta visão unilateral que temos, nós, os europeus, dos problemas sociais da América Latino, tendemos a ver unanimidades onde elas não existem nem existiram nunca. Na Raposa do Sol, os índios endinheirados, que também lá os há, fizeram causa comum com os não índios e com as empresas arrozeiras. A festa foi dos outros, dos pobres.
Cá para baixo, na Cidade Maravilhosa, a do samba e do carnaval, a situação não está melhor. A ideia, agora, é rodear as favelas com um muro de cimento armado de três metros de altura. Tivemos o muro de Berlim, temos os muros da Palestina, agora os do Rio. Entretanto, o crime organizado campeia por toda a parte, as cumplicidades verticais e horizontais penetram nos aparelhos de Estado e na sociedade em geral. A corrupção parece imbatível. Que fazer?
Sábado, 28 de Março de 2009
...
Bem que podem arrumar as malas e esqueçer o Mundial de 2010. Também podem marcar férias em 2010. Depois do jogo de hoje, as nossas aspirações à qualificação cairam por terra.
Hoje, o jogo valeu pelo esforço dos jogadores.
Muitos remates à baliza, muita desplicência dos atacantes, muita garra e força. Momentos de muito bom futebol.
Faltou um atacante ou ponta de lança a sério. Nada de falsos médios atacantes, ou alas subidos.
Faltou apoio constante das bancadas. A espaços lá se ouvia algo.
Faltou Liedson. Faltou Deco de início e também Hugo Almeida, este habituado a jogar um futebol musculado.
Falta mudar a sina, ter sorte e etc.....
É pena, mas hoje a 4 pontos e mais um jogo sobre os 2 primeiros classificados, arriscamos a ficar a 7 pontos.
É pena. Mas o empate de hoje e o que aconteceu contra a Albânia vão ser muito caros.
«O Caderno de Saramago» - Saco de gatos
Saco de gatos
By José Saramago
Os avisos não faltaram: cuidado, a União Europeia arrisca-se a ser um saco de gatos com tanto de perigoso como de ridículo. Era impossível que os velhos egoísmos nacionais, a sempiterna ambição pessoal dos políticos, a corrupção mental (pelo menos essa) que desde a primeira hora contagia qualquer intento de organização colectiva que não se reja por princípios claros de honestidade intelectual e de respeito mútuo, era impossível, repito, que este conjunto de negatividades extremas não acabasse por confrontar a União Europeia com a sua mais grotesca caricatura. Sucedeu agora com a intervenção do checo Mirek Topolanek, presidente de turno da União e, desconcertante paradoxo, demissionário do cargo de primeiro-ministro do seu país, que não só investiu contra o presidente dos Estados Unidos nos termos mais duros, acusando-o de, com o seu plano, levar a economia pelo “caminho do inferno”, ou, em versão atenuada, “do desastre”, como deixou claro por onde vão os seus sonhos e simpatias: liberalismo radical da velha escola e rejeição de qualquer medida que possa ser assimilável, ainda que superficialmente, a um intervencionismo social-democrata. O sr. Topolanek é, como se vê, uma firme esperança da humanidade.
Por coincidência, o presidente do governo de Espanha, Rodríguez Zapatero, encontrou-se ainda há dois dias sob fogo cerrado de todo o arco da oposição parlamentar por causa, não da próxima retirada das tropas espanholas, que essa já estava decidida há mais de um ano, mas por ter faltado às normas mais elementares, não informando previamente a NATO nem a administração norte-americana. Em minha opinião, efectivamente, o governo errou. Mas a questão que se me apresenta é esta: que pensa o Parlamento Europeu fazer para deixar claro ao sr. Topolanek que ele, além de reaccionário, é grosseiro e mal-educado?
Sexta-feira, 27 de Março de 2009
Policias a guardar buracos...
É estranho, mas é verdade, o que é que faz um policia ao lado de umas obras na via pública?
Guarda o quê?
Os operários?
Ou os carros que passam?
Observe-se com atenção.
Casos de Justiça
É arrepiante o que se passa na justiça portuguesa.
Isto ao nivel dos tribunais, gestão de processos e morosidade nas decisões.
Ao nivel das forças policiais, pela sua capacidade de intervenção e meios à sua disposição.
Também existe um imbróglio chamado Ministério Público. Cabe a este, promover a instrução e provas de acusação em tribunal.
Conclusão. Todos os casos mediáticos, acabam, salvo raras excepções em ilibações por falta de provas.
É quase como que uma condenação. Não se prova a culpa ou a inocência, mas sim a incapacidade de provar uma delas.
Veja-se os casos de Fátima Felgueiras, Casa Pia, Avelino Ferreira Torres, Pinto de Costa e o Apito Dourado, Valentim Loureiro...
Em busca da honra perdida...
Por estes dias, o nosso PM Sócrates, ganhou um excelente aliado.
O mais que famoso bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, vai publicar um editorial, onde esclarece, debate, divulga, explica e defende a honra perdida do primeiro-ministro.
Ao que tudo indica, foram os jornalistas em conluio com a PJ e um deputado do PSD que há uns anos atrás criaram este caso.
A ser verdade, muitas cabeças têem que rolar.
A ser mentira, está na hora de colocar na forca o pescoço do bastonário.
Morreu Alfredo Farinha
Uma referência do jornalismo escrito em português.
Fica aqui o testemunho com o link para o «seu» jornal «A Bola».
Quinta-feira, 26 de Março de 2009
«O Caderno de Saramago» - Questão de cor
Questão de cor
By José Saramago
Diálogo num anúncio de automóveis na televisão. Ao lado do pai, que conduz, a filha, de uns seis ou sete anos, pergunta: “Papá, sabias que a Irene, a minha colega da escola, é negra?” Responde o pai: “Sim, claro…” E a filha: “Pois eu não…” Se estas três palavras não são precisamente um soco na boca do estômago, uma outra coisa serão com certeza: um safanão na mente. Dir-se-á que o breve diálogo não é mais que o fruto do talento criador de um publicitário de génio, mas, mesmo aqui ao lado, a minha sobrinha Júlia, que não tem mais que cinco anos, perguntada sobre se em Tías, localidade onde vivemos, havia negras, respondeu que não sabia. E Júlia é chinesa…
Diz-se que a verdade sai espontaneamente da boca das crianças, porém, vistos os exemplos dados, não parece ser esse o caso, uma vez que Irene é realmente negra e negras não faltam também em Tías. A questão é que, ao contrário do que geralmente se crê, por muito que se tente convencer-nos do contrário, as verdades únicas não existem: as verdades são múltiplas, só a mentira é global. As duas crianças não viam negras, viam pessoas, pessoas como elas próprias se vêem a si mesmas, logo, a verdade que lhes saiu da boca foi simplesmente outra.
Já o sr. Sarkozy não pensa assim. Agora teve a ideia de mandar proceder a um censo étnico destinado a “radiografar” (a expressão é sua) a sociedade francesa, isto é, saber quem são e onde estão os imigrantes, supostamente para os retirar da invisibilidade e comprovar se as políticas contra a discriminação são eficazes. Segundo uma opinião muito difundida, o caminho para o inferno está calcetado de boas intenções. Por aí creio que irá a França se a iniciativa prospera. Não é nada difícil imaginar (os exemplos do passado abundam) que o censo possa vir a converter-se num instrumento perverso, origem de novas e mais requintadas discriminações. Estou a pensar seriamente em pedir aos pais de Júlia que a levem a Paris para aconselhar o sr. Sarkozy…
Uma longa viagem com Saramago
Um ensaio com entrevista ao nobel José Saramago.
A noticia e as primeiras páginas.
Quarta-feira, 25 de Março de 2009
Ditado Popular
Agradeço opinião.
Não de quem faça mais.
Mas de alguém que faça melhor.
...
Quatros homens jogam às cartas em cima de uma pedra funebre.
Aquilo que é agora, foi um tumulo de um senhor do passado.
Estes quatros homens são os seus guardiões.
Não se percebe o que ali fazem, nem o que guardam.
Por certo, memórias do passado.
Ou talvez apenas estão.
Sentados em cima da pedra, cada um respeitando os principais pontos cardeais, calados e numa calma aparente, têm as suas pernas cobertas por uma névoa densa e imóvel.
Faz lembrar os vapores que saem dos caldeirões de antigos druidas.
Que destino encerram estes homens.
Figuras amarelecidas pelo passar dos tempos, esbranquiçadas como que de restauro estivessem à espera.
Que sorte estão a jogar.
Através de pequenos movimentos, cada um vai mexendo o seu braço direito, como que se de cartas estivessem a lançar para cima da mesa.
As suas mãos esquerdas, erguidas, quase à frente dos olhos, mas o suficiente para estar abaixo dos mesmos, seguram algo... mas algo que não existe.
Será ilusão ou magia.
Será um jogo de sombras.
Será um jogo de imagens reflectidas.
Tudo é deveras fantasmagórico e arrepiante.
O passado circula por estes seres.
O presente não se sente passar.
O futuro não começa.
Lançam as cartas.
Cada um à sua vez.
Mas não as recolhem.
Não se vêem amontoar na pedra de granito onde estão sentados.
Que sorte está a ser jogada.
Há silêncio. Mas um silêncio denso, um silêncio em que se percebe que o som não consegue penetrar.
Ao fundo, no cimo da torre, a cruz da igreja está dobrada sobre si.
Invoca algo que o seu próprio destino contradiz.
Por ali, já passou a fé... por ali, já alguém cuidou do rebanho das almas.
O sino, estragado, não tem ligação com o relógio da torre.
Nos ponteiros parados, estão poisados dois corvos assustados a bater as asas e a bicarem um no outro.
Por ali, quatro homens, guardiões de um lugar, cujo passado veio para ficar.
The Legend of Sigurd and Gudrún
Noticias sobre um inédito de Tolkien, a publicar em 9 de Maio. Aqui a noticia.
«O Caderno de Saramago» - O amanhã e o milénio
O amanhã e o milénio
By José Saramago
Há dias li um artigo de Nicolas Ridoux, autor de Menos é mais. Introdução à filosofia do decrescimento, e recordei que já há uns bons anos, nas vésperas da entrada do milénio em que já estamos instalados, participei num encontro em Oviedo onde a alguns escritores se solicitava que traçássemos objectivos para o milénio. A mim pareceu-me que falar do milénio era demasiado ambicioso, por isso propus-me falar apenas do dia seguinte. Recordo que fiz propostas concretas e que uma delas era a agora enunciada por Ridoux no seu Menos é mais. Procurei no disco duro de computador e decidi-me a recuperar parte do que escrevi então e que hoje me parece ter ainda mais actualidade que nessa altura.
Quanto às visões do futuro, creio que seria preferível que começássemos por preocupar-nos com o dia de amanhã, quando se supõe que ainda estaremos quase todos vivos. Na verdade, se no remoto ano de 999, em qualquer parte da Europa, os poucos sábios e os muitos teólogos que então existiam se tivessem deitado a adivinhar sobre como seria o mundo daí a mil anos, estou que errariam em tudo. Contudo, algo penso eu em que mais ou menos acertariam: que não haveria qualquer diferença fundamental entre o confuso ser humano de hoje, que não sabe e não quer perguntar aonde o levam, e a amedrontada gente que, naqueles dias, acreditava estar próximo o fim do mundo. Em comparação, já será de prever um número muito maior de diferenças de todo o tipo entre as pessoas que hoje somos e aquelas que nos sucederão, não daqui a mil anos, mas a cem. Por outras palavras: talvez nós tenhamos ainda muito que ver com os que viveram há um milénio, mais do que com esses outros que daqui a um século habitarão o planeta… É agora que o mundo se acaba, está no ocaso o que há mil anos apenas alvorecia.
Ora, enquanto se acaba e não se acaba o mundo, enquanto se põe e não se põe o sol, por que não nos dedicaremos a pensar um pouco no dia de amanhã, esse tal em que quase todos nós ainda estaremos felizmente vivos? Em vez de umas quantas propostas arrojadamente gratuitas sobre e para uso do terceiro milénio, que logo ele, mais do que provavelmente, se encarregará de reduzir a cisco, por que não nos decidimos a pôr de pé umas quantas ideias simples e uns quantos projectos ao alcance de qualquer compreensão? Estes, por exemplo, no caso de não se arranjar coisa melhor: a) Desenvolver desde a retaguarda, isto é, fazer aproximar das primeiras linhas de bem-estar as crescentes massas de população deixadas atrás pelos modelos de desenvolvimento em uso; b) Suscitar um sentido novo dos deveres humanos, tornando-o correlativo do exercício pleno dos seus direitos; c) Viver como sobreviventes, porque os bens, as riquezas e os produtos do planeta não são inesgotáveis; d) Resolver a contradição entre a afirmação de que estamos cada vez mais perto uns dos outros e a evidência de que nos encontramos cada vez mais isolados; e) Reduzir a diferença, que aumenta em cada dia, entre os que sabem muito e os que sabem pouco.
Creio que é das respostas que dermos a questões como estas que dependerá o nosso amanhã e o nosso depois de amanhã. Que dependerá o próximo século. E o milénio todo.
A propósito, regressemos à Filosofia.
Terça-feira, 24 de Março de 2009
Futebol quê???
Em Portugal é assim. Mata-se a galinha dos ovos de ouro, seca-se as tetas da vaca, destroi-se o que dá riqueza.
No meio do futebol, fado e fátima, o primeiro ainda podia dar algum prestigio à aura lusitana... mas os portugueses têm destas coisas... secam tudo o que lhes aparece à frente.
O que se está a passar, por causa do penalty mal assinalado, de propósito ou não, para além de toda a controvérsia, afasta-nos cada vez mais da primeira divisão europeia.
Cheque - dentista para as crianças...
Num país como Portugal que tem uma saúde oral ao nivel de um país terceiro mundista, esta medida, a ser verdade, é bestialmente positiva.
Alargar os cheques-dentista às crianças, como refere a noticia da TSF, é uma medida para se aplaudir.