A Incerteza do movimento de uma bola Oval
"¿Qué clase de mundo es éste que puede mandar máquinas a Marte y no hace nada para detener el asesinato de un ser humano?" José Saramago
Em Estocolmo e em Oslo celebram-se hoje as cerimónias de entrega dos Prémios Nobel. Homens e mulheres serão distinguidos pelos seus trabalhos de investigação e criativos, esses que melhoram as condições de vida dos seres humanos.
A Fundação Saramago felicita os Prémios Nobel deste ano, dos prémios científicos, ao Prémio Nobel da Paz, à Prémio Nobel da Literatura. E recordando que há onze anos um escritor português recebeu o galardão, olhamos para trás e recuperamos os nomes de todos os escritores e escritoras distinguidos nos cento e oito anos de vida do Prémio. Com um vídeo aproximamo-nos dos seus nomes, com a música de Fernando Tordo dos poemas de alguns galardoados, com um conto de Herta Müller à literatura distinguida neste ano de 2009.
É a nossa particular homenagem aos Prémios Nobel no seu dia especial.
A macieira
Antes da guerra havia uma macieira atrás da igreja. Era uma macieira que devorava as suas próprias maçãs.
O pai do guarda-nocturno também tinha sido guarda-nocturno. Numa noite de verão ele estava por detrás da sebe de buxo. Viu como a macieira abriu uma bocarra mesmo no alto do tronco, no sítio onde os ramos se separam. A macieira devorava maçãs.
Ao amanhecer, o guarda-nocturno não se foi deitar. Foi ter com o juiz de paz da aldeia. Contou-lhe como a macieira atrás da igreja devorava as suas próprias maçãs. O juiz pôs-se a rir. O riso fazia-lhe estremecer as pestanas. O guarda-nocturno ouvia o medo através do riso dele. Nas fontes do juiz batiam os pequenos martelos da vida.
O guarda-nocturno foi para casa. Deitou-se vestido. Adormeceu. Adormeceu banhado em suor. Enquanto dormia, a macieira esfregou tanto as fontes do juiz que as feriu. Tinha os olhos vermelhos e a boca seca.
Depois do almoço, o juiz deu uma tareia na mulher. Tinha visto na sopa maçãs a flutuar. E tinha-as engolido.
O juiz não conseguiu adormecer depois de comer. Fechou os olhos e ouvia o ruído das cascas das árvores do outro lado da parede. As cascas das árvores estavam suspensas em fila. Balouçavam presas por cordas e devoravam maçãs.
À noite, o juiz de paz organizou uma reunião. As pessoas juntaram-se. O juiz criou uma comissão para vigiar a macieira. Pertenciam à comissão quatro grandes lavradores, o padre, o professor e o próprio juiz da aldeia.
O professor fez um discurso. Denominou a Comissão para a vigilância da macieira «Comissão-para-uma-noite-de-verão». O padre recusou-se a vigiar a macieira atrás da igreja. Benzeu-se três vezes. Desculpou-se dizendo: «Que Deus lhes perdoe.» Ameaçou ir no dia seguinte à cidade para denunciar ao bispo aquela blasfémia.
Naquela noite escureceu tarde. O calor era tanto que o sol não conseguia encontrar o fim do dia. A noite brotou da terra e inundou a aldeia.
A Comissão-para-uma-noite-de-verão escondeu-se ao longo da sebe de buxo logo que escureceu. Meteu-se debaixo da macieira. Pôs-se a olhar o emaranhado dos ramos.
O juiz tinha um machado. Os lavradores pousaram as forquilhas na erva. O professor sentou-se debaixo de um saco, empunhando um caderno e um lápis, com uma lanterna ao lado. Olhava com um olho pelo buraco do saco, por onde mais não cabia que um polegar. Fazia o relatório.
A noite já ia adiantada. Tinha empurrado o céu para longe da aldeia. Era meia-noite. A Comissão-para-uma-noite-de-verão esbugalhava os olhos para o céu que fugia. O professor olhou por baixo do saco para o relógio de bolso. A meia-noite já lá ia. O relógio da igreja não tinha batido as horas.
O padre tinha desligado o relógio da igreja. As suas rodas dentadas não deviam medir o tempo do pecado. O silêncio havia de acusar a aldeia.
Na aldeia ninguém dormia. Os cães estavam especados nas ruas. Não ladravam. Os gatos empoleiravam-se nas árvores. Observavam tudo com olhos incandescentes de luz.
As pessoas estavam sentadas em casa. As mães embalavam os filhos à luz das velas. As crianças não choravam.
Windisch tinha estado sentado debaixo da ponte com Barbara.
O professor tinha visto o meio da noite no seu relógio de bolso. Estendeu a mão fora do saco. Fez um sinal à Comissão-para-uma-noite-de-verão.
A macieira não se mexia. O juiz pigarreou para quebrar o silêncio. Um dos lavradores foi sacudido pela tosse de fumador. Rapidamente colheu um punhado de erva. Enfiou a erva na boca. Enterrou a tosse.
Duas horas depois da meia-noite, a macieira começou a estremecer. Lá em cima, onde se separavam os ramos, abriu-se uma bocarra. A bocarra devorava maçãs.
A Comissão-para-uma-noite-de-verão ouvia a bocarra tasquinhar. Do outro lado da parede, na igreja, os grilos cantavam.
A bocarra devorou a sexta maçã. O juiz correu para a macieira. Deu-lhe uma machadada na bocarra. Os lavradores ergueram as forquilhas. Postaram-se atrás do juiz.
Um pedaço de casca de árvore com uma lasca de madeira amarelada e húmida caiu na erva. A macieira fechou a bocarra.
Nenhum dos da Comissão-para-uma-noite-de-verão tinha visto quando e como a macieira fechara a bocarra.
O professor esgueirou-se para fora do saco. Como professor que era devia ter visto, disse o juiz. Às quatro horas da manhã o padre dirigiu-se para a estação com a sua longa sotaina preta sob o seu grande chapéu preto ao lado da sua pasta preta. Ia apressado. Não levantava os olhos do pavimento. O amanhecer espelhava-se nas paredes das casa. A cal estava clara.
Três dias depois o bispo veio à aldeia. A igreja estava cheia. As pessoas viram o bispo atravessar as filas de bancos ao dirigir-se para o altar. Subiu ao púlpito.
O bispo não rezou. Disse que tinha lido o relatório do professor. Que se tinha aconselhado com Deus. «Deus já o sabe há muito tempo», gritou ele, «Deus recordou-me Adão e Eva», disse o bispo em voz baixa, «Deus disse-me: Na macieira está o diabo».
O bispo tinha escrito uma carta ao padre. Escreveu a carta em latim. O padre leu a carta do alto do púlpito. Por causa do latim o púlpito dava a impressão de ser muito alto. O pai do guarda-nocturno disse que não tinha ouvido a voz do padre.
Quando o padre acabou de ler a carta, fechou os olhos. Pôs as mãos e começou a rezar em latim. Desceu do púlpito. Parecia mais pequeno. Tinha o rosto cansado. Voltou-se para o altar. «Não devemos abater a árvore. Temos de a queimar de pé», disse ele.
O velho peleiro teria gostado de comprar a árvore ao padre. Mas o padre disse: «A palavra de Deus é sagrada. O bispo sabe o que diz.» À noite os homens trouxeram uma carrada de palha. Os quatro lavradores ataram a palha ao tronco. O presidente da câmara subiu à escada de mão. Espalhou a palha pela copa.
O padre estava do outro lado da macieira e rezava em voz alta. Ao longo da sebe de buxo estava o coro da igreja cantando melopeias. Fazia frio, e a exalação dos cânticos subia ao céu. As mulheres e as crianças rezavam em voz baixa.
O professor pegou fogo à palha com uma lasca de madeira a arder. A chama devorou a palha. Crescia. A chama engoliu a casca da árvore. O fogo crepitava na madeira. A copa da árvore lambia o céu. A lua cobriu-se.
As maçãs inchavam. Rebentavam. O sumo chiava. O sumo uivava no fogo que nem carne viva. O fumo cheirava mal. Fazia arder os olhos. Os cânticos foram interrompidos pela tosse.
Até que caíram os primeiros pingos de chuva, a aldeia ficou mergulhada em fumo. O professor escrevia no caderno. Chamou a este fumo «névoa de maçã».
Herta Müller
Tradução de Maria Antonieta C. Mendonça
Extraído do livro O Homem é Um Grande Faisão sobre a Terra, Livros Cotovia, Lisboa, 1993
Com um agradecimento à Editora
A macieira, conto de Herta Müller (Livros Cotovia)
Bem que se pode chamar de politica com todos os molhos. Cada vez mais, o nosso parlamento se presta a estes tristes cenários. Não bastava vivermos há anos em crise, umas vezes económica, outras vezes de identidade, e a nossa classe politica refém da sua ganância não nos tem poupado a um crescente de instabilidade.
Depois do primeiro-ministro mandar os deputados terem «juizinho», eis que a deputada Maria José Nogueira Pinto chama um deputado do PS de «palhaço», e este responde que vem de uma pessoa vendida a diversos partidos.
Anunciado um concerto dos Metallica, habitues na nossa praça, a 18 de Maio de 2010. Conta-se que num concerto em pavilhão, o palco estará no meio do público.
Se Cícero ainda vivesse entre vós, italianos, não diria “Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?”, mas sim: “Até quando, ó Berlusconi, atentarás contra a nossa democracia?” Disso se trata. Com a sua peculiaríssima ideia sobre a razão de ser e o significado da instituição democrática, Berlusconi transformou em poucos anos a Itália numa sombra grotesca de país e uma grande parte dos italianos numa multidão de títeres que o seguem de rastos sem se aperceberem de que caminham para o abismo da demissão cívica definitiva, para o descrédito internacional, para a irrisão absoluta.
Com a sua história, a sua cultura, a sua inegável grandeza, Itália não merece o destino que Berlusconi lhe traçou com criminosa frieza e sem o menor vestígio de pudor político, sem o mais elementar sentimento de vergonha própria. Quero pensar que a gigantesca manifestação contra a “coisa” Berlusconi, na qual estas palavras irão ser lidas, se converterá no primeiro passo para a libertação e a regeneração de Itália. Para isso não são necessárias armas, bastam os votos. Ponho em vós toda a minha esperança.
Maria João Pires não teve muita sorte com o país em que nasceu. Sessenta anos de carreira (e que extraordinária carreira a sua) justificariam uma homenagem de âmbito nacional capaz de expressar a nossa gratidão por pisarmos o mesmo chão e respirarmos o mesmo ar. Não será assim, pelos vistos, ainda que não lhe venham a faltar na terra portuguesa outras manifestações de admiração e respeito. Foi em casa de uns amigos que a ouvi pela primeira vez, quando ela não passava de uma adolescente que, com o seu frágil corpo, mal parecia haver saído da infância, e que me fez temer se os braços e as mãos lhe chegariam para enfrentar-se ao gigantesco teclado. O piano familiar, vertical, talvez não estivesse em perfeito estado de afinação, mas as primeiras notas saltaram límpidas, cristalinas, dando-me a sensação, não de serem a mera consequência do choque dos martelos com as cordas, mas de haverem brotado directamente dos dedos da própria pianista. Foi o meu baptismo na arte de Maria João Pires. Depois, ao longo dos anos, sempre que ela, já viajante emérita, aparecia por Lisboa a dar os seus recitais, eu lá estava, rogando às potestades celestes que a protegessem do mau-olhado, de um simples sopro de ar que a perturbasse. Talvez por efeito das minhas petições e do crédito que tenho no céu, todos os concertos e recitais de Maria João Pires a que assisti chegaram felizmente ao seu termo. Desta vez, por razões de distância e também de saúde, não poderei estar presente, dar palmas e beijar as suas mãos tão cheias de música, de humanidade, de beleza. Por tudo o que me fez ouvir e sentir, Maria João, obrigado.
56 jornais de 44 países publicaram o mesmo editorial de intenções.
«Se não nos juntarmos para tomar uma acção decisiva, as alterações climáticas irão devastar o nosso planeta, e juntamente com ele a nossa prosperidade e a nossa segurança. Desde há uma geração que os perigos têm vindo a tornar-se evidentes. Agora, os factos já começaram a falar por si próprios: 11 dos últimos 14 anos foram os mais quentes desde que existem registos, a camada de gelo árctico está a derreter-se, e os elevados preços do petróleo e dos alimentos no ano passado permitiram-nos ter uma antevisão de futuras catástrofes.
Nas publicações científicas, a questão já não é se a culpa é dos seres humanos, mas sim quão pouco tempo ainda nos sobra para conseguirmos limitar os danos.
Mas, mesmo assim, até agora a resposta a nível mundial tem sido frouxa e sem grande convicção.
As alterações climáticas estão a ocorrer desde há séculos, têm consequências que durarão para sempre, e as nossas perspectivas de as limitarmos serão determinadas nas próximas duas semanas. Exortamos os representantes dos 192 países reunidos em Copenhaga a não hesitarem, a não caírem em disputas, a não se acusarem mutuamente, mas sim a resgatarem uma oportunidade do maior fracasso político das últimas décadas. Não deverá ser uma luta entre os países ricos e os países pobres, ou entre o Oriente e o Ocidente. O clima afecta-nos a todos, e deve ser solucionado por todos.
A ciência é complexa mas os factos são claros. O mundo precisa de dar passos em direcção a limitar o aumento de temperatura a apenas dois graus centígrados, um objectivo que exigirá que as emissões de gases a nível global alcancem o seu máximo e comecem a diminuir durante os próximos cinco a dez anos. Um aumento superior, na casa dos três ou quatro graus centígrados – a subida mais pequena que podemos realisticamente esperar se ficarmos pela inacção –, secaria os continentes, transformando terra arável em desertos. Metade de todas as espécies animais extinguir-se-ia, muitos milhões de pessoas ficariam desalojadas, nações inteiras afundar-se-iam no mar. A polémica sobre os e-mails de investigadores britânicos, sugerindo que eles terão tentado suprimir dados incómodos, tem agitado o ambiente mas não causou mossa na pilha de provas em que estas previsões se baseiam.
Poucos acreditam que Copenhaga ainda consiga produzir um acordo completamente definido – progressos efectivos em direcção a um tal acordo apenas se poderiam iniciar com a chegada do Presidente Barack Obama à Casa Branca e a inversão de anos de obstrução por parte dos Estados Unidos. Mesmo hoje, o mundo vê-se à mercê da política interna norte-americana, pois o Presidente não se pode comprometer com as acções necessárias até o Congresso fazer o mesmo.
Mas os políticos presentes em Copenhaga podem, e devem, chegar a um acordo sobre os elementos essenciais de uma solução justa e eficaz e, ainda mais importante, um calendário claro para a transformar num tratado. O encontro das Nações Unidas sobre alterações climáticas do próximo mês de Junho em Bona (Alemanha) deverá ser a data-limite. Segundo um dos negociadores: “Podemos ir a prolongamento, mas não nos podemos dar ao luxo de uma repetição do jogo.”
No centro do acordo deverá constar um arranjo entre os países ricos e os países em desenvolvimento, determinando como serão divididos os encargos da luta contra as alterações climáticas – e como iremos partilhar um recurso novo e precioso: os milhões de milhões de toneladas de gases de carbono que podemos emitir antes que o mercúrio dos termómetros alcance níveis perigosos.
As nações ricas gostam de fazer notar a verdade aritmética de que não poderá haver solução até que gigantes em desenvolvimento como a China tomem medidas mais radicais do que têm feito até agora. Mas os países ricos são responsáveis pela maioria dos gases de carbono acumulados na atmosfera – três quartos de todo o dióxido de carbono emitido desde 1850. São eles que agora devem dar o exemplo, e cada país desenvolvido deve comprometer-se com cortes maiores, que dentro de uma década reduzirão as suas emissões para substancialmente menos que o seu nível de 1990.
Os países em desenvolvimento podem argumentar que não foram eles que criaram a maior parte do problema, e também que as regiões mais pobres do globo serão as mais duramente atingidas. Mas vão cada vez mais contribuir para o aquecimento, e por isso devem comprometer-se com as suas próprias medidas significativas e quantificáveis. Apesar de ambos não terem chegado tão longe quanto alguns esperavam, os recentes compromissos de objectivos de emissões de gases dos maiores poluidores do mundo – os Estados Unidos e a China – constituíram passos importantes na direcção certa.
A justiça social exige que os países industrializados ponham a mão mais fundo nos seus bolsos e garantam verbas para ajudar os países mais pobres a adaptarem-se às mudanças climáticas, e tecnologias limpas que lhes permitam crescer a nível económico sem com isso aumentarem as suas emissões. A arquitectura de um futuro tratado deve também ser definida – com um rigoroso acompanhamento multilateral, compensações justas pela protecção de florestas, e uma aceitável taxa de “emissões exportadas”, de modo que o peso possa ser partilhado mais equitativamente entre os que produzem produtos poluentes e os que os consomem. E a equidade requer também que a carga colocada sobre determinados países desenvolvidos tenha em conta a sua capacidade para a suportar: por exemplo, novos membros da União Europeia, muitas vezes mais pobres do que a “Velha Europa”, não devem sofrer mais do que os seus parceiros mais ricos.
A transformação será dispendiosa, mas muito menos do que a conta que se pagou para salvar o sistema financeiro internacional – e ainda muito mais barata do que as consequências de não fazer nada.
Muitos de nós, particularmente nos países desenvolvidos, teremos que alterar os nossos estilos de vida. A época dos voos de avião que custam menos do que a viagem de táxi para o aeroporto está a chegar ao fim. Teremos que comprar, comer e viajar de forma mais inteligente. Teremos que pagar mais pela nossa energia, e usar menos dessa mesma energia.
Mas a mudança para uma sociedade com reduzidas emissões de gases de carbono alberga a perspectiva de mais oportunidades do que sacrifícios. Alguns países já reconheceram que aceitar as transformações pode trazer crescimento, empregos e melhor qualidade de vida. Os fluxos de capitais contam a sua própria história: em 2008, pela primeira vez foi investido mais dinheiro em formas de energia renováveis do que para produzir electricidade de combustíveis fósseis.
Abandonar o nosso “vício de carbono” dentro de poucas décadas irá exigir um feito de engenharia e inovação que iguale qualquer outro da nossa História. Mas se a viagem de um homem à Lua ou a cisão do átomo nasceram do conflito e da competição, a “corrida do carbono” que se aproxima deverá ser norteada por um esforço de colaboração, de forma a alcançarmos a salvação colectiva.
Superar as mudanças climáticas exigirá o triunfo do optimismo sobre o pessimismo, da visão a longo prazo sobre as vistas curtas, daquilo a que Abraham Lincoln chamou “os melhores anjos da nossa natureza”.
É dentro desse espírito que 56 jornais de todo o mundo se uniram sob este editorial. Se nós, com tão diferentes perspectivas nacionais e políticas, conseguimos concordar sobre o que deve ser feito, então certamente os nossos líderes também o conseguirão.
Os políticos em Copenhaga têm o poder de moldar a opinião da História sobre esta geração: uma geração que encontrou um desafio e esteve à altura dele, ou uma geração tão estúpida que viu a calamidade a chegar, mas não fez nada para a evitar. Imploramos-lhes que façam a escolha certa.
O PÚBLICO foi desafiado pelo jornal diário britânico The Guardian a participar neste projecto global. A ideia original de um editorial comum foi sugerida por várias pessoas envolvidas nas questões climáticas e tornada um projecto real por The Guardian. Foi com agrado que, ao longo dos dias, vimos o número de participantes crescer para 56 jornais de 44 países de todos os continentes. Aderimos por acreditarmos na urgência desta mensagem.
"Please Help the World", film from the opening ceremony of the United Nations Climate Change Conference 2009 (COP15) in Copenhagen from the Ministry of Foreign Affairs of Denmark. Shown on December 7, 2009 at COP15.
O ocidente, os supostos paises evoluidos prestaram jus à intolerância cinica, praticada noutras paragens. O povo suiço aprovou em referendo a proibição de minaretes nas mesquitas, local de redenção do povo mulçumano. Prova-se que o ocidente também sabe cerrar fileiras, mesmo que de forma intolerante.
... ou do paradigma de mexer muito sem se fazer nada, cumprindo com a velha máxima de à mulher de César não basta ser mas também parecer.
Centenas de países, organizações governamentais, organizações não governamentais, associações, activistas extremistas, cientistas, filósofos, jornalistas.
O palco está montado.
Começa amanhã.
Por certo e de certo, não interessará o que até dia 18 irá ser debatido e discutido em diversas acções. O mundo já tem os olhos postos na gala final de encerramento onde se presume um discurso cheio de muitas e boas promessas do presidente dos EUA. Obama, carrega sobre os seus ombros 2 pecados. O de ser a promessa do futuro salvador da terra e o prémio Nobel da Paz. Do primeiro percebe-se que será um balão de oxigénio que irá ficar rarefeito com os tempos que virão. Do segundo foi uma maldade que lhe fizeram.
Até lá a conferência de Copenhaga 2009, viverá em sobressalto no interior e no exterior.
Prevê-se disturbios e tomultos dos activistas radicais.
Ainda ninguem se lembrou que a Terra não pode esperar mais. Hoje já é tarde. Amanhã é necessário que aconteça para mostrar ao mundo o quão a humanidade desperdiçou a sua boa permanência no planeta.
Talvez depois dos dinossauros seja a nossa vez de dar lugar a outra espécie dominadora.