Nada está definitivamente perdido, as vitórias parecem-se muito com as derrotas. Nem umas nem outras são definitivas.
“José Saramago: ‘El hombre actual se dedica sobre todo a hacer zaping”, La Gaceta de Canarias, Las Palmas de Gran Canaria, 7 de Junho de 1998
O arrependimento
Por Fundação José SaramagoA mais inútil coisa deste mundo é o arrependimento, em geral quem se diz arrependido quer apenas conquistar perdão e es- quecimento, no fundo, cada um de nós continua a prezar as suas culpas [...]
In O Ano da Morte de Ricardo Reis, Ed. Caminho, 14.ª ed., p. 282
(Selecção de Diego Mesa)
O amor não resolve nada
Por Fundação José SaramagoO amor não resolve nada. O amor é uma coisa pessoal, e alimenta-se do respeito mútuo. Mas isto não transcende o colectivo. Levamos já dois mil anos dizendo-nos isso de amar-nos uns aos outros. E serviu de alguma coisa? Poderíamos mudá-lo por respeitar-nos uns aos outros, para ver se assim tem mais eficácia. Porque o amor não é suficiente.
“Saramago, el pesimista utópico”, Turia, Teruel, nº 57, 2001
A fama
Por Fundação José SaramagoA fama, ai de nós, é um ar que tanto vem como vai, é um cata-vento que tanto gira ao norte como ao sul, e tal como sucede passar uma pessoa do anonimato à celebridade sem perceber porquê, também não é raro que depois de ter andado a espanejar-se à calorosa aura pública acabe sem saber como se chama.
In Todos os Nomes, Ed. Caminho, 1.ª ed., pp. 29-30
Postura ética
Por Fundação José SaramagoNem a arte nem a literatura têm que dar-nos lições de moral. Somos nós que temos de salvar-nos, e só é possível com uma postura cidadã ética, embora possa soar a antigo e anacrónico.
“Saramago: ‘Hay que resucitar el respeto y la solidaridad”, El Mundo, Madrid, 22 de Maio de 1996
Essa incorrigível vaguidade
Por Fundação José SaramagoEm rigor, em rigor, penso que as chamadas falsas memórias não existem, que a diferença entre elas e as que consideramos certas e seguras se limita a uma simples questão de confiança, a confiança que em cada situação tivermos sobre essa incorrigível vaguidade a que chamamos certeza.
In As Pequenas Memórias, Ed. Caminho, 2006, p. 120
(Selecção de Diego Mesa)
Condenados desde que nascem
Por Fundação José SaramagoHá que ter em conta que a distância entre os que têm e os que não têm apenas tem paralelismo com a distância entre os que sabem e os que não sabem, e os que não têm são os que não sabem: são condenados desde que nascem.
“Saramago: ‘La Navidad es una burbuja consumista que nos aísla del Apocalipsis”, Agencia EFE, Madrid, 25 de Dezembro de 2006
12 anos depois
Por Fundação José SaramagoA Academia Sueca outorgou o Prémio Nobel a um escritor que literariamente faz o melhor que pode, e que humanamente entende que tem uma responsabilidade pelo simples facto de estar vivo e que esse dever o assume todos os dias e em todas as circunstâncias.
“Saramago: ‘Mi obra literaria es la expresión del respeto humano”, La Jornada, México D. F., 10 de Outubro de 1998
A cabeça dos seres humanos
Por Fundação José SaramagoA cabeça dos seres humanos nem sempre está completamente de acordo com o mundo em que vivem, há pessoas que têm dificuldade em ajustar-se à realidade dos factos, no fundo não passam de espíritos débeis e confusos que usam as palavras, às vezes habilmente, para justificar a sua cobardia.
In Ensaio Sobre a Lucidez, Ed. Caminho, 2.ª ed., p. 133
(Selecção de Diego Mesa)
Circunstâncias muito complexas
Por Fundação José SaramagoFalham os que mandam e falham os que se deixam mandar… São circunstâncias muito complexas as que marcam ou decidem o destino dos homens… Apenas sei que o mundo necessita de ser mais humano e essa é uma revolução pendente, uma revolução que, para além disso, deveria ser pacífica e sem traumas porque seria ditada pelo sentido comum.
“José Saramago”, ABC (El Suplemento Semanal), Madrid, 28 de Maio de 1995
Uma palavra é quanto basta
Por Fundação José SaramagoQuantas vezes, para mudar a vida, precisamos da vida inteira, pensamos tanto, tomamos balanço e hesitamos, depois voltamos ao princípio, tornamos a pensar e a pensar, deslocamo-nos nas calhas do tempo com um movimento circular, como os espojinhos que atravessam o campo levantando poeira, folhas secas, insignificâncias, que para mais não lhes chegam as forças, bem melhor seria vivermos em terra de tufões. Outras vezes uma palavra é quanto basta.
In A Jangada de Pedra, Ed. Caminho, 1986, p. 83
(Selecção de Diego Mesa)
Verdades parciais
Por Fundação José SaramagoEu creio que não se pode falar de História genuína, porque isso significaria que essa História genuína estaria a comunicar a verdade, ou uma verdade. Mas há um problema: a verdade não existe. Há verdades parciais.
Jorge Halperín, Conversaciones con Saramago. Reflexiones desde Lanzarote, Icaria, Barcelona, 2002
Não se sabe tudo, nunca se saberá tudo
Por Fundação José SaramagoNão se sabe tudo, nunca se saberá tudo, mas há horas em que somos capazes de acreditar que sim, talvez porque nesse momento nada mais nos podia caber na alma, na consciência, na mente, naquilo que se queira chamar ao que nos vai fazendo mais ou menos humanos.
In As Pequenas Memórias, Ed. Caminho, 2006, p. 17